quinta-feira, 2 de agosto de 2012


MAIS DEZ poeminhas
Mário Valladão


 1

 - Alô?... Alô?... Quem fala?
- Quer falar com quem?
- Não sei. Quem é você?
- O Senhor tá de brincadeira?
- Não. Só queria saber o seu nome! Alô?.. Alô?...
Que pena...Queria tanto conversar com alguém!

02

Toc, toc, toc, toc...
A funcionária japonesa era pequenininha,
Mas fazia um barulho enorme com aqueles saltos gigantes,
Toc, toc, toc, toc...
E lá vem ela novamente despertando a atenção
dos que esperavam na fila do banco,
Toc, toc, toc, toc...
Toc, toc, toc, toc...

Ufa! Ainda bem que sou o próximo!

03

Na espera do atendimento da repartição pública:
À minha direita um senhor mal vestido apóia as mãos impacientes no rosto,
ao seu lado uma senhorinha de lenço rendado na cabeça pestaneja, acorda, pestaneja...
À minha esquerda uma outra um pouco mais nova tagarela ao celular ,como se não existisse mais ninguém ao seu lado.
Um pouco mais à frente outra moça apóia uma das mãos na testa tentando dormir,
Ouve-se burburinhos ininteligíveis nas mesas de atendimento...
O painel eletrônico mostra a senha: J0133, a minha é a J0157...
Sinto que somos ali apenas números, 
e como nos separam esses números!

 04

Hoje um amigo desmarcou um almoço comigo.
Mesmo assim fui almoçar no horário e local combinado.
Achei deselegante desmarcar esse almoço comigo também!

 05

Meu filho acordou muito tarde hoje, já passava do meio dia,
 Daí iniciei o sermão habitual:
- Isso são horas de levantar? Você já perdeu a manhã toda!
No que ele emendou virando para o lado:
- Ah pai! Já que eu perdi a manhã mesmo,
 deixa eu descansar um pouquinho mais agora a tarde,
 pra eu poder aproveitar melhor então a noite!

 06

A vida é uma contradição,
Procuro o que não preciso,
Preciso do que não procuro...
E nesse jogo de desencontros
Também acabo me perdendo!

07

Incrível como o rosto revela o que estamos sentindo!
Como? Se nunca rosto e sentimento se viram?
 Imaginem o encontro:
- Prazer, eu sou o rosto!
- Prazer, eu sou o sentimento! E o rosto:
Olá sentimento, como você está se sentindo hoje? 

08

Hoje é natal!
Por que não estou feliz?
Ou será que não estou feliz porque hoje é natal?

09

Escrevo poesia para anjos ou demônios?
Ah! Se pelo menos  homens me quisessem ouvir!

Pensando bem... Talvez ficasse mudo se me dissessem: Então leia!
É que para anjos e demônios eu não preciso fingir!

10

No fim das contas a vida se resume numa coisa só: 
Ou amas, ou não amas!
Amas-me?














quarta-feira, 25 de julho de 2012

Dia incomum


Dia incomum
Mário Valladão



Sabe aqueles dias em que você acorda com vontade de mandar flores pro delegado, lhe desejar bom dia e beijar o português da padaria? Hoje eu acordei assim. Não sei se algumas circunstâncias colaboraram pra isso; um belo dia de sol, temperatura agradável na faixa dos 20, 21 graus no máximo, e ainda por cima sexta-feira! Ô sexta-feira santa!  Depois de um café rápido saí pra caminhar como de costume. Aos quarenta e uns... A gente começa a se preocupar mais com a saúde, as gordurinhas e tudo o mais. O problema de ser um pouco gordinho é ter de ouvir os conselhos:

    - “Eu conheci uma senhora que emagreceu 4 quilos em uma semana só tomando essas pílulas”!

     - “Sabe o que você tem de fazer..., ó, eu vou te explicar direitinho!”

O engraçado é que geralmente os resultados só acontecem com “aquelas tais” pessoas mencionadas.

Enfim, saí. Fone de ouvido grudado ao som do violão do Guinga ( depois de ouvi-lo sempre tenho vontade de jogar o meu violão fora e esconder de todo mundo que um dia “tentei” tocar o pinho!). Mas não desanimei e prossegui ofegante a minha caminhada. Cheguei ao parque e comecei o ritual: alonga daqui, estica dali, quande vi passar lentamente uma senhorinha indumentada apropriadamente com o seu jogging me encarando como se eu estivesse lhe importunando de alguma maneira. Será que aquele pedaço de banco de jardim era o pedaço dela e eu sem saber de nada invadi suas terras? Seria eu confundido com um desses líderes do MST? Acho que não, pois meu boné era azul e a minha camiseta cinza. Se bem que ultimamente tenho sido barrado por aí:

    - Oopa, opa, onde o senhor pensa que vai?

E lá saio eu explicando...  Talvez eu me pareça com um desses larápios que aparecem diariamente nos telejornais sensacionalistas. Espero que não, mas é duro de admitir, mas acho que é por causa da cor da minha pele mesmo! Quando um de meus filhos era pequeno um dia me perguntou:
     - Pai, por que você é marronzinho?

Voltando à pequena senhora... Um pouquinho mais pra frente ela pára (e continua me encarando!) e começa também a se alongar. Eu disfarçadamente, de vez em quando, tronco curvado pra baixo, braços caídos ao chão, cabeça abaixo do joelho, espiava o alongamento da tal senhora que logo batizei de dona Elástica. Foi uma humilhação! A senhora colocava a perna onde queria, as palmas da mão no chão, o tronco girava e girava, os braços voavam de lá pra cá feito aqueles bonecos de Olinda, e ela me olhava e sorria. Entendi o recado. E eu que pensava que estava arrasando, percebi que perto dela era apenas mais um principiante, mas não desanimei!Lembrei-me do delegado; do português da padaria, e prossegui caminhando.

Na velocidade de meus passos, confesso, um pouco cambaleantes, fui pensando nas dívidas, ops, na vida, que não caminhava tão bem assim etc. Viro a esquina, e dou de cara agora com Adoniran e Elis (no fone de ouvido, é claro); de tanto levá frechada do teu olhar, meu peito até parece sabe o quê ? E lá se vai o meu peito sofrido a lembrar que o casamento não vai tão bem assim, o trabalho não vai também..., mas afinal, o que importa? O dia não estava tão lindo? Tudo se resolve num dia desses!Logo pensei! E senti o meu ofegante coração batendo outra vez com esperanças, diria o Cartola. Diminuí os passos ao avistar uma feira. Aquele cheiro me trouxe boas recordações. Tirei um dos fones do ouvido e logo ouvi:

     - Três por cinco!

    - Vai senhora! Fresquinho, fresquinho,

     - Moça bonita não paga!!! (manjadíssima)

E aquele burburinho...

A voz anasalada e aguda do nordestino me fez rir sozinho, ao menos aqui não seria barrado novamente, me senti participante do povo novamente. Animado me lembrei de uma música que seria perfeita como trilha daquelas imagens, “saudade assim faz doer e amarga que nem “jiló”, mas ninguém pode dizer que me viu triste a chorar, saudade o meu remédio é cantar! Laia, laia, laia,... e dá-lhe sanfona!

 Cheguei ao fim da feira e a música já era outra, agora instrumental. Parado pra esperar o sinal, (semáforo para os que não vivem em São Paulo), abrir. Enquanto isso se aproximaram diversos cachorros bem cuidados, conduzidos por um cachorreiro, isso é meio novo por aqui, lembro-me de ter visto isso há muitos anos em Buenos Aires. Os cachorros muito bem cuidados, um labrador, uma chihuahua (Meu Deus é assim que se escreve?), um pastor alemão e dois poodles se enroscaram por entre as minhas pernas pedindo pra brincar. Meio sem graça, meio amedrontado, arrisquei um carinho, mas logo o sinal abriu e todos saíram em disparada. Como tudo passa rápido nessa cidade! Caramba pra que tanta pressa?

Estou quase chegando ao meu destino tentando organizar melhor o meu dia que não será fácil! O suor já escorre pela testa, pelas costas, sinto que perdi uns cinco quilos, mas a balança da velha Pharmácia (bota velha nisso), prontamente me desmente, e não tem como ter erro, pois é a mesma balança da velha drogaria de todos os dias.Ouvi claramente a voz daquela senhora que tentava me ajudar, mas não desanimei, afinal o dia não estava mesmo lindo, lembra?

     - “Não falei? Se você tivesse tomado aquelas pílulas! Ao menos ajudaria".

Subi as escadas de meu prédio lentamente... Primeiro andar, segundo, sétimo... Pensei que não ia conseguir chegar ao décimo segundo como planejei, (confesso que parei por duas vezes). E  engraçado a alegria de ver mais aquele dia nascer estranhamente para mim não diminuía, e isso não é comum, em dias normais já teria chutado (literalmente) a lata do lixo.

Inexplicável como às vezes uma paz, tão misteriosa quanto a vida, nos arrebata assim...

Dia incomum aquele! Sei que talvez não tenha outros assim tão breve, mas espero que muitos outros venham e sejam tão incomuns como este! 

quarta-feira, 18 de julho de 2012


DEZ POEMINHAS
Mário Valladão


1
Leio poemas como quem precisa desesperadamente de ar...
Como quem conta os últimos minutos de existência...
Poetas! Colocai vossas máscaras de oxigênio sobre mim!
Ainda não assineis minha Eutanásia!


2
Conto os meus dias lentamente
Como quem não se importasse com a pressa

Aliás, pra que tanta pressa
Se posso viver um bocadinho mais?

A pressa não é só inimiga da perfeição,
É também a mensageira da morte.

Não quero encontrá-la tão cedo
 Quero viver cada dia como se lê um poema:
Com calma, alma e sem trauma!


 3
A chuva que batia na janela
De repente espantou a mariposa que ali estava
Solitária e calma

A mariposa assustada voou para longe
E levou consigo meus pensamentos!

Oras bolas chuva!
Por que viestes roubar de mim e da mariposa
Momento tão contente?


4
O menino que me abraçava forte
Dizia ter sentido saudades de mim

Talvez olhando assim pra cima
Pensasse fosse eu um bom modelo de pai, amigo, instrutor...

Pobre menino indefeso
Mal sabe ele que o poeta é um fingidor!


Da janela do meu quarto vejo a montanha
Verde, imponente...
Tão distante de tudo que estou acostumado a ver:
Carros, concreto, fumaça cinza...

Ah! Se eu tivesse um grão de mostarda!
Levaria essa montanha embora pra São Paulo comigo!

Ourilândia do Norte – Pará
23 de novembro de 2011


5
No tique taque nervoso das teclas de meu computador
Revejo poemas, fotos... Antigas canções...
Ah! Se pudesse voltar no tempo!
Faria tudo de novo?
Não sei...
 Minha Nossa! Só sei que ainda quero ser feliz!


 6
Doces palavras essas que leio de ti poeta,
 Lentamente entrando pelos meus ouvidos caem, não sei como,
Em minha corrente sanguínea,
 Fazendo pulsar mais rapidamente esse coração ferido,
Se cortassem meus pulsos agora jorraria dali a tinta negra
De tua pena,
E quem sabe assim pudessem ler:
Aqui jazz quem um dia também amou!


7
Tenho agora de sair, e nem escrevi o que realmente queria,
E o que é o querer? Será algo que realmente se quer? Ou que de que se necessita?
Porque se pudéssemos querer o que na verdade queremos,
Talvez nem quiséssemos nada, ou melhor...
Que tal escrever um poeminha? 


8
Ama, amar, amor, amore...
Como achá-lo sem o conhecer?
Como o compreender sem achá-lo?
Penso que a vida se resume nessa busca.
Se nossa vida fose um filme se chamaria:
“À procura do amor


9
Já escrevi poemas...
Já fiz canções...
Já elaborei projetos...
Só me resta agora encontrar a felicidade!


10
Os jovens de agora não precisam de doses de Whisky,
 Vodca e energéticos pra se sentirem contentes,
Precisam mesmo é de doses de Quintana, Pessoa e Drummond
Pra se sentirem gente!







sábado, 5 de maio de 2012

DEIXA DE FRESCURA MENINO!!



Impossível ouvir a voz de Jorge Camargo cantando “Vou para o Reino de Atlântida! Vou para a terra sem mal! Vou para o reino de Nárnia! Vou para a terra de Oz! Numa parceria impagável com o poeta Gladir Cabral e não se emocionar! http://www.youtube.com/watch?v=Oi5engyPe_4

Impossível ouvir as frases improvisadas do piano de Fernando Merlino e Ogair Júnior ontem (04/05/2012) no Autorretrato e não se emocionar! http://www.youtube.com/watch?v=oBIQ74HHrb4&feature=relmfu

Impossível ouvir o casamento perfeito entre letra, melodia e harmonia do Daniel Maia e não se emocionar!  http://www.youtube.com/watch?v=IbdJZ3v9YK4

Impossível ouvir O Tapeceiro do Stênio e não se emocionar! (e chorar)

E tantas outras canções maravilhosas de tantos outros  amigos.

Assim como é Impossível ouvir uma música como Senhorinha de Guinga  (ouvindo agora!) e não se emocionar!

Ouvir Sinhá numa parceria magistral entre Chico Buarque e João Bosco e não se emocionar! O Réquiem de Mozart e não se emocionar!

Receber um abraço apertado de um filho e não se emocionar!

Ler as poesias infantis de Cecília Meirelles e não se emocionar!

Ler Adélia Prado, logo após a morte de uma mãe, dizendo: “Minha mãe cozinhava exatamente: arroz, feijão-roxinho, molho de batatinhas. Mas cantava”. E não se emocionar!

Reler as passagens, nos evangelhos, da morte de Cristo próximo da páscoa e não se emocionar!

Receber um bilhetinho de uma aluninha de seis anos, com um desenho dela e de você, e embaixo escrito “super colorido”: Tio Eu te amo! E não se emocionar!

Observar os passos vagarosos e cuidadosos de um ancião e não se emocionar!

Tocar violão e não se emocionar!

Não consigo imaginar um mundo sem sensibilidade (conceito surgido na Inglaterra do século XVIII), portanto relativamente novo.  Conceito novo para sentimento antigo, você se lembra: “Os céus manifestam a glória de Deus e o firmamento anuncia as obras de suas mão”. Sensibilidade pura!

Isso sem dizer do canto de um pássaro, do som do mar, da beleza de uma lua cheia!E por aí afora!

Estão tentando nos enquadrar num mundo barulhento, cheio de piadistas de plantão (vide os Stand-ups, comerciais na TV, programas de “pseudo” humor, canções para “curtir”). Estão tentando nos enquadrar, num mundinho juvenil e imbecil!(desculpem-me a grosseria!), que prega aos berros que é preciso ser feliz a qualquer custo! De preferência bebendo uma gelada! Estou fora!!

Prefiro continuar com as minhas frescuras!

quinta-feira, 19 de abril de 2012

O Mecenas e o Artista



Um jovem que acabara de herdar a fortuna de seu pai, sentindo o bom momento do mercado de artes, decidiu tornar-se mecenas.  Num domingo foi até à praça pública imaginando que lá seria um excelente local para encontrar artistas interessados em seu mecenato. Logo que chegou se interessou por um pintor que expunha ali seus quadros:

- Que quadro lindo! Você mesmo quem pintou?

- Sim, esse quadro é um dos meus favoritos. Não sei se você consegue notar, mas aqui eu apliquei a técnica de Haishem.

- Entendo. Mas quase ninguém utiliza mais essa técnica não é?

- Isso é verdade, porém se você observar mais de perto, aqui nesse ponto está vendo? Aqui já existe uma fusão de Haishem com Vintorato. Eu quis expressar aqui o vazio existencial que existe em cada um de nós, entende?

- Sei. Mas você acha mesmo que alguém está interessado em saber esses detalhes? Não seria melhor você simplificar um pouco. Sei lá... Pra que mais pessoas pudessem ter acesso à sua obra?

- Pode ser... Mas arte antes de tudo é sentimento sabe. .quando um  artista cria ele não está muito preocupado se vai vender ou não...   Quando eu pinto, por exemplo, procuro transmitir na tela o que estou sentindo naquele momento. Dessa forma ela torna-se única, porque é o registro de um momento que nunca mais será o mesmo, não sei se você está entendendo...

- Sim. Entendo perfeitamente. Mas eu ainda acho que se você fizer algo mais fácil, mais assimilável, mais pessoas se interessarão em comprar os seus quadros, e dessa forma você contribuiria para a popularização da sua arte.  Isso não é bom? Você é muito talentoso... O que você acha de fazer uns dez.. Vinte quadros pra mim por semana? Eu compraria todos eles.

- Sério? Puxa! pra mim seria ótimo. Eu não consigo vender nem dez por mês!

- Você topa então? Mas tem uma coisa... Você só pode pintar quadros de uma mesa com um cesto cheio de maças, o que acha?

- Não entendi. Você quer que todos os quadros sejam iguais?

- Isso. E outra coisa... Como vou comprar essa grande quantidade de quadros por mês você terá de me vender por um valor bem abaixo desse que você está acostumado a vender...

- É?

-É. E também terá de assinar um contrato de exclusividade comigo.

- E precisa?

- Precisa. E já ia me esquecendo de uma coisa. Você terá de abrir mão dos direitos autorais desses quadros pelo resto de sua vida...

- Mas não vou poder nem assinar mais os meus quadros?

- Nossos quadros! ... Tudo bem vai...  Mas contanto que abra mão dos direitos... E Então? É pegar ou largar!

(Depois de um minuto de pausa o jovem pintor, um pouco resignado, fecha o acordo com o jovem mecenas).

Alguns meses depois, e depois de ter vendido muitos e muitos quadros da mesa com a maçã, ele voltou à praça pública, e logo que chegou se interessou por um cantor que brilhantemente cantava ali suas canções. Ao terminar o seu show o mecenas foi ao encontro do jovem rapaz:

- Que música linda! Você quem compôs...?




domingo, 8 de abril de 2012

Cântico de Maria


Depois do sábado, tendo começado o primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria foram ver o sepulcro. E eis que sobreveio um grande terremoto, pois um anjo do Senhor desceu dos céus e, chegando ao sepulcro, rolou a pedra da entrada e assentou-se sobre ela. O anjo disse às mulheres: Não tenham medo! Sei que vocês estão procurando Jesus, que foi crucificado. Ele não está aqui; ressuscitou, como tinha dito. Venham ver o lugar onde ele jazia. Vão depressa e digam aos discípulos dele: Ele ressuscitou dentre os mortos! As mulheres saíram depressa do sepulcro amedrontadas e cheias de alegria, e foram correndo anunciá-lo aos discípulos de Jesus.

Livro de Marcos, capítulo 28.

Há alguns anos, quando ainda cursava o curso de Letras na faculdade, inspirado nesse texto, compus o Cântico de Maria. Uma canção, que era uma tentativa de se tornar uma cantiga de amigo. Nesse tipo de composição medieval o autor se coloca como a voz de uma mulher apaixonada que aguarda seu amigo (Senhor) retornar de um grande período ausente.

Nesse domingo de Páscoa de 2012 refaço meus votos de amor ao meu Senhor ressurreto!

Feliz Páscoa!





Ai meu Senhor! Se ao menos você estivesse aqui!
Onde está teu corpo, tua alma a vida enfim...


O teu amor moveu a pedra do meu coração
Já não consigo ser Maria sem o meu Senhor.


Ai meu senhor! Se ao menos você estivesse aqui!
E eu pudesse olhar em teus olhos, sentir tuas mãos...


Um terremoto eu sei seria pouco pra expressar,
A alegria de te ter ao lado meu Senhor!


Ai meu Senhor!Eu sei que agora estás aqui!
E quando te vejo, caio prostrada aos teus pés


Porque a morte é pouco
Pra me separar de ti!
Ando correndo a dizer: Jesus ressuscitou!



sábado, 31 de março de 2012

Ócio e Industrialização Cultural.

Aprendi ontem, 30 de março de 2012, no Seminário Servo de Cristo, em São Paulo, com o amigo e compositor goiano Carlinhos Veiga, que para os gregos, o ócio era o momento da contemplação, momento de reflexão e também criação artística. Hoje pejorativamente, entendemos ócio como, vagabundagem, preguiça e outros adjetivos mais, porém o artista ainda necessita desse tempo para sua criação.

Com o advento da Indústria Cultural, segundo Theodor Adorno (filósofo, ligado à escola de Frankfurt), o ócio virou negócio! É a negação do ócio. É preciso agora não "perder" tempo, produzir em escala "industrial" a cultura para, cada vez mais, vender o seu "produto" artístico.

A música cristã, também conhecida como "gospel" passa atualmente por esse processo de industrialização, oferecendo à "massa" de consumidores uma arte "engajada" com o "lucro" certo e rápido. Existem pessoas sérias, comprometidas com a verdade nesse meio? Não tenho dúvidas que sim! Porém enquanto estiverem "vendendo" seus talentos e dons aos grandes empresários também fazem parte dessa "manipulação" gananciosa.

Músicos, atores, escritores, dançarinos, fotógrafos, pintores, escultores que "optam" por serem chamados de artistas cristãos precisam também de garantir seu sustento trabalhando com a arte, porém dentro de padrões éticos, justos e com a dignidade que convém aos cristãos.